A Bíblia descreve o pecado como um rompimento de confiança e de confiabilidade, uma suspeita e obstinada resistência em ouvir. Na perspectiva bíblica, o pecado é muito mais do que apenas o “quebrar as regras”. Se não for tratado, o pecado torna a paz impossível. O pecado começou no céu, na mente do anjo de confiança e mais honrado de Deus. Apocalipse 12 descreve o contexto de conflito e guerra no íntimo da família de Deus, desenvolvendo-se mesmo em Sua presença.
Isso levanta a pergunta. O que realmente deu errado no universo de Deus? Essa pergunta é importante, porque entender o que deu errado nos ajuda a entender os métodos que Deus está usando para corrigir as coisas. Na visão mais ampla do Grande Conflito, o plano da salvação é a maneira pela qual Deus corrige as coisas de tal forma que elas nunca mais dêem errado.
Para entender o que deu errado, pode ser de ajuda considerar o porquê das coisas irem tão bem antes de haver guerra no céu. Antes da guerra havia paz. Esta paz existia porque todos os membros da vasta família de Deus confiavam uns nos outros. Eles confiavam em seu Pai celestial. E Ele, por sua vez, podia confiar neles com segurança. Onde você encontra esse tipo de confiança e confiabilidade, há sim perfeita paz, perfeita liberdade e perfeita segurança.
Do que se trata o pecado
Uma crise de desconfiança, entretanto, se desenvolveu na família. Como já vimos, nosso Pai celestial foi acusado de não ser digno de nossa confiança. Especificamente, Ele foi acusado de ser arbitrário, exigente, vingativo, implacável e severo. E foi assim que o pecado entrou em nosso universo pela primeira vez. Na Bíblia, o pecado é muito mais do que um simples quebrantamento de regras, por mais sério que isto seja. Em sua essência, o pecado é uma violação de confiança mútua. É um rompimento de fidelidade e confiança, uma obstinada resistência em ouvir Àquele que ansiosamente deseja nos ajudar em nossa dificuldade.
Entretanto, a Bíblia não afirma especificamente, que o pecado é o quebrantamento das regras? E aquele texto-chave que aprendemos em nossa infância, “Pecado é a transgressão da lei”? 1 João 3:4 (KJV). Na verdade, essa é uma tradução um tanto livre. A palavra grega que João usou é anomia que significa literalmente, iniquidade. “Todo aquele que comete pecado comete iniquidade; pecado é iniquidade”. 1 João 3:4, (Williams). Em outras palavras, o pecado é descrito como um estado de espírito, uma atitude. E qualquer pessoa nesse estado de espírito é uma ameaça contínua à paz e segurança da família universal. O pecado não terá sido verdadeiramente resolvido até que nossa iniquidade seja mudada ou eliminada. O pecado começa com o estado de espírito mental rebelde e sem lei.
O perigo de considerar o pecado primeiramente como uma violação das regras é que essa maneira de pensar tende a encorajar um relacionamento impessoal e até mesmo temeroso para com Deus. Se considerarmos o pecado primeiramente como uma violação das regras, os mandamentos de Deus podem ser mal interpretados como sendo regulamentos arbitrários destinados a ostentar Sua autoridade e provar nossa disposição em obedecer. Se obedecermos, seremos recompensados. Se desobedecermos, seremos destruídos. Você gostaria de viver nessas condições?
Já que todos pecamos, deveríamos então aguardar a execução da sentença com medo? Ou fomos poupados porque Deus encontrou uma maneira legítima de novamente nos dar mais uma chance? E se recusarmos essa segunda chance, seremos punidos por Ele com ainda maior severidade por nossa ingratidão? Poderia tal compreensão contribuir para nos libertar do medo e produzir a paz que Deus tanto deseja em Sua família universal?
Entretanto, se corretamente compreendido, existe o sentido em que se pode dizer que o pecado é a violação das regras. Vejamos novamente os mandamentos de Deus, particularmente o Decálogo. Tudo o que os Dez Mandamentos exigem é que amemos a Deus e amemos uns aos outros (Mateus 22:36-40). E se realmente praticássemos isso, teríamos paz e liberdade. De fato, no décimo dos Dez Mandamentos está escrito que não devemos nem desejar pecar. Se vivêssemos nesse estado de espírito, sem querer fazer nada a não ser amar, teríamos todo tipo de paz, boa vontade e liberdade com certeza.
Porém, pode o amor realmente ser obrigado? Produzido pela força ou pelo medo? Deus alguma vez disse a Seus filhos: “Vocês Me amem e amem-se uns aos outros, ou vou ter que destruí-los”? Vocês, maridos, já experimentaram fazer isso com
suas esposas e seus filhos? Funcionou? Imagine sua esposa e filhos com medo diante de você e dizendo juntos: “Oh, sim, papai. Nós o amamos muito.” Ficaria você feliz? Ficaria satisfeito? Se sim, então você é uma pessoa cruel. E o Deus que alguns de nós adoramos nunca aceitaria isso.
Sabendo disso porém, todos temos que reconhecer que a Bíblia está cheia de referências à lei, disciplina, punição, recompensas, e até mesmo destruição final por fogo. E visto que nosso propósito neste livro é sempre ver a Bíblia como um todo, não apenas “um pouco aqui e um pouco ali”, devemos considerar todas essas outras passagens com seriedade. Na verdade, vários capítulos deste livro vão ser dedicados à maneira como Deus amplamente usa a lei e o motivo pelo qual Jesus realmente teve que morrer. E vamos falar sobre como, na realidade, a lei de Deus não é uma ameaça à nossa liberdade! Entender isso é entender realmente a verdade que nos liberta.
Voltando ao início, o pecado entrou em nosso universo quando os anjos deixaram de confiar. Como consequência, eles próprios se tornaram indignos de confiança. Tiago 4:17 (RSV) oferece uma definição familiar: “Quem sabe o que é certo fazer e não o faz, comete pecado.” É uma rebelião agir dessa forma. É contra a lei agir dessa maneira. Qualquer pessoa que se comporta assim certamente não é confiável para fazer parte de um universo livre.
Veja Romanos 14:23 em diferentes versões: “Qualquer ação que não seja baseada na fé é um pecado” (Moffat). “Tudo o que não provém da fé é pecado” (RSV). “Quando agimos à parte de nossa fé, pecamos” (Phillips). Em um texto do livro de Esdras, os judeus que voltaram do cativeiro babilônico estão confessando que haviam feito várias coisas que não deveriam ter feito. E eles descrevem seu mau comportamento com as seguintes palavras: “Nós rompemos com a fé em nosso Deus” (Esdras 10: 2, RSV). “Temos sido infiéis ao nosso Deus” (Esdras 10: 2, NVI). Esses textos enfatizam que a essência do pecado é uma violação da fé; é um rompimento de confiança e de confiabilidade.
Pecado como quebra de confiança na história de Moisés
Não conheço ilustração melhor de como o pecado é uma violação de confiança do que a que envolve o grande e santo Moisés. Quando o povo reclamou da falta de água, eles vieram a Moisés e protestaram. Eles disseram até que preferiam ter morrido no deserto. “Por que nos tiraste do Egito? Não temos água” (baseado em Números 20:5). Seu comportamento foi tão mal que Moisés correu a Deus e
orou: “Senhor, o que devo fazer? “E Deus disse:” Dê-lhes água. Pegue sua vara e vá até a rocha e desta vez fale. Não a golpeie, não faça uma cena, não fique zangado com as pessoas nem as condene. Basta falar com a rocha, e eles terão toda a água que desejarem” (baseado em Números 20:7-8).
Em vez de seguir as instruções de Deus, Moisés se voltou para a rocha, golpeou-a fortemente (Números 20:11) e disse: “Escutem rebeldes e ingratos! Teremos que tirar água desta rocha?” Números 20:10. De acordo com Números 20:12 (NVI), Deus respondeu:“Como você não confiou em Mim para honrar Minha santidade à vista dos israelitas, você não conduzirá esta comunidade para a terra que lhes dou.”
Agora, olhando superficialmente, não parece isso um tanto severo e arbitrário? Tudo o que o idoso homem fez foi ficar irritado e impaciente. Ele desobedeceu a Deus batendo na rocha com o seu cajado. Era isso o suficiente para mantê-lo fora da Terra Prometida? Por quarenta anos ele liderou o povo. Pense no que ele suportou todos esses anos. Mas Deus diz: “Por causa da sua atitude junto à rocha, você não conduzirá este povo.” Não parece ser severa, esta maneira de Deus tratar Seu velho amigo? Como poderia isso que Moisés fez ser sério o suficiente para exigir tão terrível consequência e castigo?
Evidentemente, Moisés implorou a Deus: “Por favor, posso conduzir o povo?” E finalmente Deus disse: “Não fale mais Comigo sobre este assunto.” Deuteronômio 3:26. Mas, como poderia ser isso tão sério? Ou poderia ser que a resposta está no texto que lemos? Números 20:12 não diz: “Porque você me desobedeceu, você não conduzirá esse povo”. O texto na realidade diz: “Porque você não confiou em Mim o suficiente [ênfase fornecida] para honrar Minha santidade à vista dos israelitas, você não conduzirá esta comunidade para a terra que lhes dou”. Por que?
Moisés foi um dos melhores amigos que Deus já teve. Deus falava com ele face a face, sendo assim mais direto do que através das visões e sonhos que Ele deu aos profetas. Ele disse: “Eu falo com Moisés face a face como um homem fala com seus amigos” (ver Êxodo 33:11). Por causa disso, o povo sabia que Moisés tinha um relacionamento especial com Deus. Eles o reverenciavam – pelo menos quando exibiam seu melhor comportamento. Eles o viram subir ao Monte Sinai e descer trazendo os Dez Mandamentos (Êxodo 32:15-16). Se o seu pastor descesse de uma montanha com o rosto brilhante e trazendo os Dez Mandamentos, você não crê que ele teria grande influência em sua congregação?
Moisés tinha uma influência enorme sobre o povo de Israel. Isso foi que fez com que seu comportamento junto à rocha fosse tão sério. Ele disse, “porventura tiraremos (nós) [ênfase adicionada] água desta rocha para vós?” Números 20:10. Moisés deu a entender com o “nós” que ele estava falando e agindo em nome de Deus (Números 20: 10-11). Moisés deu a entender que Deus estava irritado quando Ele na realidade não estava. Deus em Sua bondade desejava levar alguns daqueles israelitas ao arrependimento (Números 20: 7-8, veja também Romanos 2:4 e 2 Pedro 3:9). Mas por causa de seu comportamento, Moisés privou a Deus dessa oportunidade. Estando prestes a entrar em Canaã para guerrear ali com suas tribos bem arregimentadas, eles precisavam confiar pessoalmente em Deus. E Deus se propôs conquistar a confiança deles apesar de todas as suas murmurações e reclamações. Não desejava condená-los ou criticá-los; queria simplesmente dar-lhes abundância de água em um dos desertos mais áridos. “Moisés”, disse Ele, “nem mesmo bata na rocha” (Números 20:8). Moisés porém representou a Deus como estando irado.
Que contraste com a atitude anterior de Moisés quando Deus disse: “Estou cansado desse povo. Afaste-se. Deixe-me destruí-los e então farei de você uma grande nação” (ver Êxodo 32:10). E naquele momento, Moisés respondeu: “Deus, o Senhor não deveria fazer isso. Pense no que sucederia à Sua reputação. O que os egípcios pensariam? Eles presumiriam que o Senhor é incapaz de levar o Seu povo à Terra Prometida!” Êxodo 32:11-13. E Deus disse: “Me agrado disso, Moisés. Quem Me conhece tão bem quanto você? Realmente você é Meu amigo” (veja Êxodo 33:9-11). Mais tarde, porém, sob pressão, Moisés desapontou a Deus. Ele O representou mal, como sendo vingativo, implacável e severo. E esse foi precisamente o pecado de Satanás no início; o mais devastador de todos os pecados.
Deus demonstrou honra para com Seu amigo Moisés desde então. Ele o enterrou pessoalmente (Deuteronômio 34:6), o ressuscitou (Judas 1: 9) e, mais tarde, o enviou para confortar Seu Filho no Monte da Transfiguração (Mateus 17:3-4; Marcos 9:4-5; Lucas 9:30-33). Porém Deus teve que deixar registrado perante os olhos do universo que observava, a seriedade do terrível pecado de Moisés. Não se tratava apenas de desobediência, ou que ao golpear a rocha ele “havia danificado um símbolo”. Ele certamente fez as duas coisas. Mas mais do que isso, Moisés rompeu com a fé em Deus. A coisa mais destrutiva que uma pessoa pode fazer é usar sua influência e deturpar a verdade sobre Deus. Moisés havia demonstrado não ser um amigo que confiava em Deus, e de confiança para Deus. E essa é a essência do pecado.
Quantos de nós cometemos o mesmo pecado em palavras ou em ações? Quantos de nós ofendemos nossos próprios filhos e outras pessoas
que confiam em nós, para que lhes ensinemos a verdade sobre nosso Deus? Você já pediu desculpas a Deus por havê-Lo deixado em uma situação ruim ou por haver deixado a impressão de não ser Ele o tipo de pessoa que sabemos que Ele é? Moisés se arrependeu e passou a ser ainda melhor amigo de Deus, mais do que era antes. No entanto, muitas pessoas ainda continuam insistindo em desconfiar.
As consequências da desconfiança
Pecado nos transforma, produzindo temor e falta de confiança em Deus. Os resultados de séculos dessa falta de confiança estão registrados na carta de Paulo aos Romanos. Vejamos em primeiro lugar Romanos 3. O que torna esta citação de Romanos tão significativa é que ela contém seis passagens do Antigo Testamento; uma de Isaías e cinco dos Salmos (na mesma ordem em que são mencionadas em Romanos 3:10-18; Salmos 13:1-3, 5:9, 140:3, 10:7; Isaías 59:7-8; Salmo 36:1). Este resumo no Antigo Testamento ilustra as consequências da desconfiança:
Como dizem as Escrituras. “Não há ninguém que seja justo, ninguém que seja sábio ou que adore a Deus. Todos se afastaram de Deus; todos estão errados; ninguém faz o que é certo, nem sequer um. Suas palavras estão cheias de engano mortal ; mentiras perversas saem de suas línguas, e ameaças perigosas, como veneno de cobra, de seus lábios; sua fala está cheia de maldições terríveis. Eles são hábeis em ferir e matar; eles deixam ruína e destruição por onde quer que passam. Eles não conheceram o caminho da paz, nem aprenderam a reverência a Deus.” Romanos 3:10-18, GNT.
Paulo tem muito mais a dizer sobre as consequências da desconfiança em Romanos 1. Ali (versos 18-20) Paulo mostra que a ignorância com respeito a Deus não pode ser desculpada. Deus Se revelou na Criação e na experiência humana. Portanto, a falta de conhecimento realmente tem suas raízes na rebelião humana. Observe algumas das consequências dessa rebelião:
Eles conhecem a Deus, mas não lhe atribuem a honra que lhe pertence, nem tampouco lhe são gratos. Antes começaram a formar ideias absurdas, e suas mentes vazias se tornaram obscuras. Eles dizem que são sábios, mas são tolos; em vez de adorar o Deus imortal, eles adoram imagens perecíveis de homens mortais, pássaros, animais ou répteis. Romanos 1:21-23, GNT.
Sabemos pelos registros da antiguidade que os egípcios adoravam crocodilos e até besouros. Pense no que isso poderia causar a uma pessoa. Veremos isso mais de perto em um capítulo posterior. Porém Oséias menciona a existência de uma lei que diz que nos tornamos semelhantes ao objeto de nossa adoração: “Quando Israel veio a Baal-Peor, eles passaram a adorar a Baal, e imediatamente se tornaram tão abomináveis quanto o deus que amavam” (baseado em Oséias 9:10) . Esse é o resultado destrutivo de adorar uma falsa imagem de Deus. Aqueles que adoram o Pai por meio da revelação que temos em Jesus se tornam mais semelhantes à Ele. Aqueles que seguem a Satanás também se tornam como ele.
Deus tem procurado comunicar-Se conosco porém, como temos nós demonstrado relutância em ouvi-Lo! Pelo fato de que as pessoas recusaram dar importância ao verdadeiro conhecimento sobre Deus (Romanos 1: 18-23), Paulo continua dizendo (Romanos 1:25, GNT): “Eles trocam a verdade sobre Deus pela mentira.” E você sabe quem é o pai da mentira (João 8:44). Paulo então descreve as devastadoras consequências dessa troca:
(Deus) os entregou aos seus maus pensamentos, para que façam o que não devem. Eles estão repletos de todo tipo de perversidade, maldade, ganância, vícios, ciúmes, crimes de morte, brigas, mentiras e malícia. Eles fofocam e falam mal uns dos outros; tem ódio de Deus, são atrevidos, orgulhosos e vaidosos; eles inventam maneiras de fazer o mal; eles desobedecem a seus pais; eles não têm consciência; eles não cumprem suas promessas e não mostram nenhuma bondade ou compaixão pelos outros. Eles sabem que a lei de Deus diz que quem vive assim merece morrer. No entanto, eles não apenas continuam a fazê-las, mas também aprovam outros que as fazem. Romanos 1:28-32, GNT.
Observe como a Bíblia diz (para nossa tranquilidade) que não haverá fofocas na eternidade! Os salvos serão aqueles em quem se pode confiar que mesmo conhecendo os pecados de outras pessoas eles ainda assim as tratam com dignidade e respeito. Paulo também menciona pessoas que não cumprem suas promessas, usando a palavra grega que é traduzida como “desleal” (ESV, NIV) ou “indigno de confiança” (NASB). Tudo isso são consequências de um rompimento de confiança na família humana de Deus.
A rebeldia e a falta de vontade para ouvir que Paulo apresenta em Romanos 1:28-32 também pode ser vista em Oséias 4:16-17: “Israel é teimoso como uma novilha brava. Como pode o Senhor alimenta-lo como a uma ovelha num grande pasto? Efraim está casado com a idolatria, deixe-o em paz “(Phillips). Quando as pessoas não amam, não confiam e não admiram a Deus, “seu espírito fica impregnado com infidelidade e eles desconhecem ao Senhor”. Oséias 5:4, Phillips. Observe também esses textos de Oséias: “Não há honestidade, nem compaixão, nem conhecimento de Deus… Oh Meu povo! Pedindo conselho a um pedaço de madeira e consultando uma vara para obter orientações!” Oséias 4:1,12, Phillips.
Aqui surge um ponto importante; como é possível alguém dizer que Israel não conhece a Deus (ver também Jeremias 5:4; 9:3)? Quem mais poderia conhecer tão bem a Deus? Considere as maravilhosas ilustrações de Deus retratadas por todos os profetas do Antigo Testamento. Entretanto, a maneira como Israel conhecia a Deus naqueles dias não era o mesmo que conhecer a Deus no sentido bíblico. Isto é, conhecer a Deus como amigo, ou até mesmo conhecer a Deus de maneira íntima como marido e mulher se conhecem. A Bíblia diz: “Adão conheceu Eva”, sua esposa (Gênesis 4:1). E, como resultado, eles não aprenderam simplesmente os nomes um do outro. Eles tiveram um bebê!
Em outro lugar na Bíblia, Deus diz a respeito de Israel: “Somente Eu o tenho conhecido” (Amós 3:2). Ele conhecia todas as outras nações. Porém Ele conhecia Israel de uma maneira especial. Algo semelhante acontece por ocasião do julgamento final. Quando santos enganados descobrem que não fazem parte do Reino, eles imploram: “Senhor, Senhor. Deixa-nos entrar. “Ele diz: “Apartem-se de Mim. Eu nunca os conheci” (Mateus 7:21-23). Ele sabia a quantidade de fios de cabelo que eles tinham (Mateus 10:30; Lucas 12:7), mas não os conhecia como amigos. A amizade é a essência do relacionamento que Deus deseja ter com Seu povo. Se Israel houvesse realmente conhecido a Deus, eles teriam sido melhores amigos. Eles teriam tido zelo por Sua reputação. E eles mesmos teriam sido melhores pessoas, assim como foram os profetas do Antigo Testamento que tão bem escreveram sobre Deus.
Quando cremos nas mentiras de Satanás, não confiamos em Deus e desta maneira não permitimos que Ele nos cure. E o resultado final disto encontramos em Romanos 6:23: “O pecado remunera seus servos; o salário é a morte” (Phillips). A Bíblia na Versão Facilitada diz: “Porque o salário que o pecado paga é a morte” (GNT). Agora você entende que como seres humanos, não podemos resolver isso por nós mesmos. Somente depois que Deus soprou no homem o fôlego de vida, ele se tornou um ser vivente (Gênesis 2: 7). Não somos deuses; somos apenas seres criados. Deus espera que não pensemos ser isso algo humilhante. Ele não nos humilha. Ele até nos trata como deuses nos Salmos (82:6). Ele se refere a nós como sendo irmãos de Seu Filho (Mateus 25:40; Marcos 3:34; João 20:17). Mas ainda continuamos sendo seres criados. Por isso a importância de dar ouvidos e atenção Àquele que nos criou. Pretender ser Deus foi uma ideia insensata de Satanás. E veja o que aconteceu com ele.
Como Deus nos traz de volta à confiança
Milhões de anjos e homens romperam sua fé com Deus. Eles demonstraram não serem dignos de confiança. Isso porém mudou nosso Deus? Podemos ainda confiar em Deus? Mais especificamente, podemos confiar em Deus quando Ele diz que deseja que volvamos à Ele? É Ele o mesmo Deus em Quem podemos confiar, que para nos trazer de volta, ainda está disposto a pagar qualquer preço? Essa é a pergunta que mexeu com o apóstolo Paulo quando ele escreveu: “Que importa se alguns não tiveram fé? Sua infidelidade anulará a fidelidade de Deus? De maneira nenhuma!” Romanos 3:3-4 (NVI). Outras versões dizem: “De forma alguma” (ESV, NRV).”Deus nos livre” (KJV). “Que nunca o seja” (NASB). E assim temos o registro bíblico completo de tudo o que Deus fez para corrigir o que deu errado.
Deus até enviou Seu Filho para lidar com o pecado. Veja Romanos 8:3: “O que a Lei não pôde fazer, porque a natureza humana era fraca, Deus o fez. Ele condenou o pecado na natureza humana ao enviar seu próprio Filho, que veio na semelhança da natureza pecaminosa do homem, para acabar com o pecado” (GNT). A Bíblia de Jerusalém reproduz esta mesma frase assim (Romanos 8:3): “Deus lidou com o pecado enviando seu próprio Filho.”
O que significa lidar com o pecado? Depende do que venha ser o pecado. Se o pecado é a falta de confiança e suas consequências, então o perdão por si só não pode corrigir o dano causado. Perdão não destrói o pecado. Para que haja paz duradoura no universo de Deus, a confiança necessita ser restaurada de alguma forma. Perguntas precisam ser respondidas. As acusações de Satanás necessitam ser contestadas. Deus precisa ser visto como Justo e infinitamente Digno de nossa confiança. E foi por esta razão que Cristo veio com o fim de restaurar as coisas. Foi por isso que Ele morreu; assunto que consideraremos mais adiante dedicando-lhe um capítulo inteiro (Capítulo Oito).
Veja a explicação de Paulo em Romanos 5:1: “Agora que fomos declarados justos para com Deus pela fé, temos paz com ele por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (GNT). Observe a frase” declarados justos” ou “justificados”. Isso tem como base o Verbo grego geralmente traduzido como “justificado” ou “sendo justificado” (grego: dikaioô). Eu gosto da Bíblia na Versão Facilitada que traduz esta palavra como: “justificado”. Veremos isso com mais profundidade em um capítulo posterior.
Existem pelo menos três maneiras de entender o que deu errado no universo de Deus e ao continuarmos nossa discussão vamos usá-las como base (veja o resumo no final do capítulo). O ponto crucial é que Deus parece ser diferente em cada uma delas. A primeira é amplamente aceita mesmo além dos limites do Cristianismo. A declaração do problema é mais ou menos assim: Pelo fato de violarmos as regras de Deus, nós O ofendemos. Ele está extremamente irado conosco. Então nesse caso a pergunta fundamental seria: O que os seres humanos podem fazer como tentativa de apaziguar a ira de Deus, para que Ele encontre em Seu coração motivos para não nos destruir, mas sim para nos perdoar e nos abençoar uma vez mais?
Existe outra visão também amplamente defendida, e muitas vezes até encontrada dentro dos limites do Cristianismo. A declaração do problema é mais ou menos assim: Violamos as regras de Deus e, portanto, estamos com sérios problemas jurídicos. A lei e a justiça exigem que Deus nos destrua ou (em algumas versões dessa visão) que nos torture por toda a eternidade. Então nesse caso a pergunta fundamental seria Existe algo que possa ser feito que torne legalmente possível que Deus nos perdoe, e não nos destrua, enquanto ainda continua sendo justo aos Seus próprios olhos e aos olhos do universo que nos observa?
Mas, há uma terceira visão que não é tão amplamente aceita neste planeta, mas que acredito ser a visão mais amplamente aceita em todo o universo. Nessa visão, a declaração do problema é mais ou menos assim: Nós pecamos. Nós nos permitimos ser enganados pelas mentiras de Satanás. E assim nos afastamos do Deus verdadeiro e aceitamos outros substitutos. E os resultados foram desastrosos. Deixados por conta própria, todos nós morreríamos. Então nesse caso a pergunta fundamental seria: Existe alguma maneira de serem corrigidas as mentiras de Satanás? Existe alguma maneira de tornar a verdade sobre Deus e Seu governo clara e cristalina? Existe alguma maneira de oferecer inquestionável evidência de que Deus não é o tipo de pessoa que Seus inimigos O fazem parecer? Será que alguns de nós, rebeldes como somos, podemos ser reconquistados e assim sermos salvos e curados?
Poderia perguntar-lhe qual dessas três visões você prefere? Qual desses deuses você prefere? Com qual você preferiria passar a eternidade? Faz isso realmente alguma diferença?
Perguntas e respostas
Louis Venden: Aqui está uma pergunta que nos leva de volta ao capítulo anterior e ajuda a estabelecer a base para tudo o que estamos procurando fazer neste livro. “Você disse que o livro do Apocalipse foi especialmente dirigido aos cristãos que viviam na época em que ele foi escrito. Você pode explicar isso um pouco mais? Sempre entendi, ou fui ensinado, que ele tem relevância especial para a igreja atual no que lhe diz respeito. O que você acha disso? “
Graham Maxwell: É verdade, eu acredito que o livro do Apocalipse foi escrito primeiro para cristãos daquela época. Eles haviam ficado desanimados, e se perguntavam por que o Senhor ainda não tinha vindo. Havia heresia na igreja, oposição à liderança e perseguição. Eles precisavam da mensagem do Apocalipse para direciona-los à uma visão mais ampla. Eles precisavam saber que estavam envolvidos em um grande conflito, mas que Deus já havia vencido a guerra.
Nós também precisamos dessa mensagem. O livro foi escrito tanto para nós quanto para eles. Vivemos numa época em que enfrentamos muitos dos mesmos problemas. E precisamos da mesma mensagem que eles tiveram. Não é tanto uma mensagem sobre datas e eventos futuros, por mais interessante e útil que ela seja. Em vez disso, precisamos da mensagem principal do livro de Apocalipse: olhe um pouco mais para cima, tenha uma visão mais ampla das coisas. Entenda que Deus já ganhou a guerra. Quando entendemos essa mensagem, nossa atribuição e privilégio é sair e contar às pessoas que Ele venceu a guerra e como a venceu. Apoiados pela mensagem do Apocalipse, podemos agir mais como jogadores de uma equipe vencedora, em vez de frequentemente estarmos na defensiva.
Lou: Você está dizendo que o significado para nós agora pode ser ainda mais claro quando entendermos o impacto que ela teve naquela época?
Graham: É a mesma mensagem, porém de nossa perspectiva na história, ela deveria ainda ser muito mais significativa para nós. Deus não tinha uma mensagem para eles e um cronograma de eventos para nós. Acredito que a consistente mensagem do livro para todos os leitores é a de olhar para o quadro geral. Veja tudo no contexto do Grande Conflito. Essa perspectiva torna tudo muito mais significativo. E é uma leitura positiva e otimista do Apocalipse.
Lou: Tenho uma pergunta sobre o início da rebelião no céu. “Algum outro anjo questionou a Deus antes de Lúcifer? Se eles não questionaram, por que não? É possível que outro anjo questione Deus novamente no futuro? Já que aconteceu uma vez, por que não poderia continuar acontecendo?”
Graham: Não conheço nenhum texto que sugira que outros anjos fizeram o que Lúcifer fez. A Bíblia apenas nos conta um pouco do que aconteceu. Você se lembra que João falou: “Se eu fosse registrar tudo o que Jesus
disse e fez, não haveria lugar no mundo para todos os livros que poderiam ser escritos” (João 21:25). É o suficiente para nós aprendermos sobre a rebelião de Lúcifer e suas consequências. Será que isso pode acontecer de novo? E se fizermos perguntas mas com reverência? Claro, penso que faremos isso por toda a eternidade. De que outra forma poderíamos aprender? Deus não tem receio de perguntas sinceras. Creio que Ele é exaltado por isso. Mas a Bíblia nos garante que o tipo de rebelião que surgiu com Lúcifer nunca mais se levantará (veja Naum 1:9). Não porque nossa liberdade foi tirada, mas porque uma base com um preço elevado foi estabelecida para nos fornecer as respostas de que necessitamos. Jesus sempre estará lá em Sua forma humana para nos relembrar de todas as respostas que Deus deu na cruz. E vamos nos recordar. E isso garantirá a paz por toda a eternidade. Mas não vai tirar nossa liberdade.
Lou: Deus deu a Satanás chance de se arrepender? Afinal, você disse que questionar a Deus não era o problema. Deus aceita nossas perguntas. Como então as coisas chegaram a esse extremo?
Graham: Teve Satanás a chance de se arrepender? Não há texto que diga que sim. Mas você não crê que o Deus que conhecemos e confiamos daria a Satanás tempo suficiente? Não tem Ele sempre sido assim? Não deseja Deus que nenhum de Seus filhos pereça (2 Pedro 3:9)? De acordo com Pedro, Deus é tão paciente que algumas pessoas hão de perguntar se Ele ainda virá (2 Pedro 3:10, veja também Romanos 2:4). Portanto, temos aqui um quadro que é coerente com isso em toda a Bíblia. Deus sempre espera com paciência, concedendo-nos todas as oportunidades para arrependimento.
Na verdade, com base na história do Filho Pródigo (Lucas 15:11-32), eu diria que se Satanás tivesse se arrependido, Deus o teria restabelecido totalmente à sua posição original. Lembre-se de que, quando o filho pródigo voltou, ele disse: “Se o Senhor apenas me deixar ser como um servo contratado, eu ficaria muito satisfeito.” E o pai disse: “Não temos filhos de segunda classe em nossa família. Ou você está em casa ou não está”. O pai até lhe deu um cheque em branco do banco da cidade quando lhe deu o anel. O pai foi tão generoso que fez com que o irmão mais velho ficasse realmente incomodado. Portanto, eu diria que, se Satanás tivesse se arrependido, o Deus da história do Filho Pródigo o teria aceito de volta e o teria restabelecido totalmente.
Lou: No capítulo anterior, você mencionou Efésios 3:9-10. Ali nos diz que “por meio da igreja, a multiforme sabedoria de Deus pode ser manifestada nos lugares celestiais”. Qual é o significado da palavra “igreja” aqui? Isso seria uma organização oficial da igreja tipo uma denominação?
Graham: A palavra “igreja” tem muitos significados, não é? Podemos falar sobre os edifícios das igrejas ou podemos nos referir a denominações específicas. Podemos também perguntar: a igreja permite isso, permite aquilo? Para muitos, “igreja” significa o culto de adoração das 11 horas da manhã. Portanto, a palavra “igreja” tem muitos significados. O que isso significa nesse verso? A palavra original (ekklēsia) significa “convidado”, sugerindo que são “aqueles que respondem ao convite de Deus”. É quase como “congregação”, uma palavra no português que significa “se reunir”. Ou “sinagoga”, que vem da palavra grega usada para “reunir-se”.
A “igreja” no livro de Efésios são todos os que respondem ao convite de Deus e que pelo menos professam ser Seus amigos. Paulo era membro desta igreja. Jeremias era membro desta igreja. Todos nós podemos ser membros deste grupo de indivíduos que dizem “sim” a Deus, que respondem ao Seu chamado. Ainda precisamos de muito trabalho, muita disciplina, muita correção, muita cura. Mas, ao mesmo tempo, temos o privilégio de nos unirmos à Ele na propagação das boas novas sobre como Ele é. E é por meio da igreja e da maneira como Ele lida com a igreja que Deus revela Seus propósitos e planos. A “igreja” em Efésios é certamente mais do que uma única denominação.
Lou: Aqui está uma questão que discutimos no capítulo anterior, mas talvez devêssemos revê-la novamente. “Se Deus sabia que Lúcifer seria um instigador de problemas para a raça humana, por que então Ele o criou?” Creio que essa é uma questão que confunde muitas pessoas.
Graham: Como falamos no capítulo anterior, não gosto de limitar a presciência de Deus. Prefiro acreditar que, quando Deus criou Lúcifer, Ele sabia que Lúcifer originaria todos esses problemas. Mas Deus também sabia como iria resolvê-los. Assim, ao criar esse magnífico ser, Ele disse: “Sei que isso vai Me custar caro mas estou disposto a pagar o preço.” O que é realmente maravilhoso para mim é que mesmo assim Ele escolheu ir em frente, sabendo que Lúcifer um dia causaria todos esses problemas.
Isso então torna Deus responsável pelo pecado? Não. Deus nunca criou alguém imperfeito. Lúcifer não tinha inclinação para o mal. Ele permitiu que o orgulho e o pecado surgissem dentro de si mesmo. Deus o criou perfeito, porém o criou livre. E isso é importante. Isso significa que, quando dizemos que amamos a Deus, não o fazemos porque fomos programados dessa forma, e sim por uma escolha livre. Mas essa liberdade também significa que podemos escolher nos rebelar. Também podemos dizer a Deus: “Nós Te odiamos”. Adão e Eva deram evidência disso. Quando eles pecaram no jardim, o fizeram porque eram livres para pecar.
Lou: Isso significa que o erro de Satanás não aconteceu por causa de algum defeito na maneira como ele foi criado, como um automóvel que precisa de conserto. Ele era perfeito. Mas pelo fato de ter perfeita liberdade para fazer escolhas, todos os tipos de consequências eram possíveis.
Graham: Sim. Porém Deus não é de forma alguma responsável. Na verdade, vejo aqui algo maravilhoso sobre Deus. Ele pagou o preço por essa rebelião como se fosse culpa Sua. Ele assumiu a responsabilidade, embora não fosse o culpado. Creio que fez isso porque a liberdade significa muito para Deus, e por isso Ele prefere seguir o caminho mais custoso. Ele prefere não usar um atalho programando-nos para nos comportarmos como robôs. Poderíamos ter sido programados para juntos dizermos o quanto O amamos. Seria como ouvir uma gravação ou assistir um vídeo em que os atores pretendem amar alguém. O Deus inteligente que temos não Se agradaria disso.
Lou: Por que você pensa que a árvore no meio do jardim era o único lugar aonde Eva poderia ser tentada por Satanás? E como foi o mandamento de Deus para não comer desta árvore, uma proteção?
Graham: É verdade que não há um texto que diga que Satanás podia ter acesso a Adão e Eva somente naquela árvore. Mas se você fosse o diabo, que árvore escolheria? Você não teria escolhido a Árvore da Vida? Mas Satanás não tinha acesso à eles na Árvore da Vida. Ele os encontrou junto à árvore onde eles não deviam ir. Por isso, aparentemente, ele estava limitado à uma única árvore. E ele sabia que haviam sido instruídos a não ir lá. Por isso minha conclusão tem como base esses dois fatos: 1- O aviso de Deus foi apenas com relação àquela árvore em particular e 2- foi exatamente ali onde Satanás os encontrou. Portanto, ele não tinha livre acesso a todo o jardim. Isso significa que a árvore foi colocada no jardim para proteger Adão e Eva. A liberdade de Satanás para tentar estava limitada à essa árvore. Penso que essa seja a única dedução lógica.
Lou: A próxima pergunta é também relacionada com isso. “O pecado existe para que os seres humanos possam escolher entre o bem e o mal, para usarmos o nosso próprio discernimento?” Isso dá a entender que o pecado é algo bom porque nos dá a chance de crescer. Qual é seu pensamento sobre isso?”
Graham: Felizmente, Paulo tratou desse assunto de uma forma muito eficaz. Em certo sentido, é verdade que quanto mais pecadores temos sido, mais Deus tem sido misericordioso para conosco. E aí Paulo diz: “Porque então não sermos um pouco mais pecadores, para que assim Ele possa ser mais misericordioso?” Romanos 3:8; 6:2. Paulo apresenta essa ideia duas vezes e depois a condena duas vezes como sendo um terrível pensamento! Romanos 3:7-8; 6:1-2. É verdade que quanto mais desgarrados estamos, mais Deus Se inclina em misericórdia para nos encontrar, nos amar e com grande compaixão, nos proteger. Se quanto mais escuro for o pano de fundo, mais brilhante será a justiça de Deus, porque então não pintamos o pano de fundo com a cor mais escura possível? Paulo diz que este é um pensamento terrível. A tradução Phillips diz : “Que pensamento horrível [ênfase adicionada].”
Portanto, não creio que devemos sugerir que nossa pecaminosidade e nossa maldade tenham ajudado a Deus. Em vez disso, o que Ele fez foi transformar uma emergência em algo bom. Ele é o único a ser honrado nisso. Não devemos pensar que O estamos servindo sendo um pouco mais pecaminosos para que Ele possa mostrar quão bom Ele é. Sem nos esforçarmos, já temos sido maus o suficiente.
Lou: Muito bem, aqui temos outra pergunta. “Se uma pessoa é sincera sobre as coisas religiosas, mas é sinceramente errada, de quem é a culpa?” E suponho que implicitamente por detrás da pergunta está: “Qual será o resultado? A pessoa será punida e terá que sofrer as consequências disso?”
Graham: Gosto dessa pergunta e do que ela envolve. Eu acredito que se alguém sinceramente tomar o caminho errado, sinceramente chegará ao destino errado. Isso é verdade.
Lou: Então, de quem é a culpa?
Graham: Lembre-se de que, se formos realmente sinceros; se estivermos realmente dispostos a ouvir, Deus não nos deixará no escuro. Como diz João, Cristo é a luz que ilumina todos os que vêm a este mundo (João 1:9). Paulo até diz que existem gentios que não tem conhecimento da Bíblia, que não tem conhecimento da lei e das instruções de Deus. Mas eles fazem por natureza as coisas que a lei requer e mostram que a lei está escrita em seus corações (Romanos 2:13-16). E eu gosto do parágrafo em O Desejado de Todas as Nações que fala sobre os pagãos que adoram a Deus por ignorância; a mensagem nunca foi lhes foi apresentada por instrumentos humanos. Em vez disso, eles ouviram a voz de Deus falando-lhes através da natureza. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, 638. Eles cumpriram o que a lei exige, que é o amor. E eles são reconhecidos como filhos de Deus. Deus não abandonará ninguém neste planeta que esteja sincera e humildemente disposto a ouvir. Ele não os deixará em trevas.
É sempre um grande privilégio ser aquele que vem com as boas novas, mas às vezes outro chega primeiro. Pense nos missionários que naufragam quando estão chegando a uma ilha para, de alguma forma, “transformar aqueles canibais em cristãos”. Enquanto eles estão se afogando, eles veem se aproximar os canibais em suas canoas. Os missionários se despedem uns dos outros; eles sabem o que vai acontecer em breve. Mas, em vez disso, os canibais os colocam nas canoas e os levam para a praia e os reanimam. Quando finalmente estão confortáveis, um dos missionários diz: “Vamos reunir essas pessoas e dar-lhes a verdade.” E ele começa a pregar para eles sobre o amor.
Sua esposa, também missionária, lhe dá um toque e diz: “Espera um minuto. Essas pessoas arriscaram suas vidas para nos resgatar do recife!” E o ministro responde: “Mas ninguém pregou para elas ainda.” Ele se esqueceu de Romanos 2:13-16. O Espírito de Deus estava presente ali antes da chegada dos missionários. Deus sempre tem Se aproximado das pessoas “de muitas e de várias maneiras” (Hebreus 1:1). Portanto, eu diria que, se alguém for realmente sincero, não acabará sinceramente errado. Se alguém está “sinceramente errado”, provavelmente já faz muito tempo que diz “não” à verdade. A verdadeira sinceridade está aberta à evidência e à correção. A verdadeira sinceridade é humilde. A falsa sinceridade costuma ser simplesmente preguiçosa.
Lou: Essa pergunta também diz respeito ao capítulo anterior. “Você poderia explicar o texto ‘sem derramamento de sangue não há remissão de pecados’ (Hebreus 9:22)? A palavra ‘remissão’ aqui tem um significado diferente do da interpretação médica comum que diz que a doença não foi curada, mas que está simplesmente em um estado de inatividade, sem sintomas? Eu não consigo pensar que o sangue derramado por Cristo apenas torna ‘inativa’ a rebelião, porém realmente não a cura.”
Graham: Essa pergunta em si é um sermão. Sobre a questão de “sem derramamento de sangue não há remissão de pecados”, vamos abordar esse assunto no capítulo sobre por que Jesus teve que morrer (Capítulo Oito). Mas gostaria de comentar sobre a segunda parte da pergunta, a remissão de pecados. “Remissão” na Bíblia não é um termo médico. Se o pecado fosse apenas controlado, nos encontraríamos em estado lamentável e nossa contaminação iria conosco para a eternidade. E nossa desobediência continuaria.
A palavra traduzida em algumas Bíblias em inglês como “remissão” significa realmente perdão. De acordo com Hebreus 9:22, Deus enviou Seu Filho para realmente “perdoar” pecados. Na realidade, a melhor tradução é “sem derramamento de sangue não há perdão”. Porém Deus enviou Seu Filho para fazer ainda mais do que isso. Jesus veio para aniquilar o pecado (Hebreus 9:26, NVI).
Deus não deixa de lidar com o pecado até que ele seja eliminado. Mas esses textos levantam também a seguinte pergunta: por que o sangue é necessário? E isso trataremos mais seriamente em um capítulo posterior.
Lou: Eu gostaria de voltar a uma pergunta sobre a qual falamos um pouco no capítulo anterior. “Se dizemos que Deus já ganhou a guerra, por que ainda estamos aqui? O que Deus está esperando? A guerra já não deveria ter acabado?”
Graham: Temos um capítulo inteiro sobre o que Deus está esperando (capítulo dezoito). Mas, uma vez que a pergunta foi feita aqui, seria bom abordá-la brevemente. Quando Satanás e seus aliados foram expulsos do céu, houve uma espécie de vitória, porém incompleta. Ainda havia muitas questões a serem resolvidas. A paz não havia sido confirmada. Até os anjos leais tinham suas dúvidas. Eliminar o pecado no céu pode parecer haver sido uma “verdadeira vitória”. Mas não o foi para nosso Pai celestial. Somente quando Jesus morreu é que foi possível ser dito: “Está consumado”. João 19:30.
Quando retornou ao céu no domingo da ressurreição, Jesus encontrou o universo celebrando Sua vitória. No livro do Apocalipse, a multidão celestial repete muitas vezes: “Tu demonstrastes ser misericordioso e justo e bom e digno e santo” (ver Apocalipse 5:12-13; 15:3-4; 19:2). “Tu és vitorioso” (veja Apocalipse 3:21; 5:5-6)! Na verdade então, a guerra foi vencida, com a morte e ressurreição de Jesus. Os anjos e os habitantes de outros mundos prestaram tanta atenção ao que Jesus revelou em Sua vida, ensinamentos, sofrimento e morte que eles foram capazes de entender a mensagem. E agora eles mal podiam esperar para Lhe dizer no domingo da ressurreição: “Tu conquistastes nossa lealdade. No que nos diz respeito, Tu vencestes a guerra”.
Infelizmente, nesse planeta, não fomos capazes de entender a mensagem. Jesus convidou três dos discípulos para presenciar algumas das evidências no Getsêmani. Mas eles dormiam enquanto tudo acontecia (Mateus 26:36-46; Marcos 14: 32-42; Lucas 22: 41-46)! Ele os convidou várias vezes para virem à cruz e presenciar a resposta mais importante de todas (Mateus 16:21; 17:22; 20:19; Marcos 8:31; 9:12, 31; 10:34; Como 9: 22; 17:25; 18: 32-33; 24: 7). O universo presenciou. Mas onde estavam “os meus irmãos”, como Ele os chamou? Onze deles estavam em algum outro lugar. Apenas um deles estava lá. E é por isso que João foi o discípulo que escreveu os relatos mais significativos sobre por que Jesus teve que morrer.
Portanto, Deus tem misericordiosamente esperado que este pequeno planeta de seres humanos faça sua decisão (2 Pedro 3:9). Nós sabemos que eventos incríveis acontecerão aqui antes que Jesus venha. E até que estejamos firmados na verdade como estão os anjos, Deus não permitirá que ocorram esses eventos finais. Ele os retarda e misericordiosamente espera. Deus é assim. Ele dá ao Seu povo todo o tempo que eles precisam para compreenderem a verdade sobre Seu caráter. Deus espera até que Seu povo entenda. Você pode confiar em um Deus assim!
Lou: Graham, mas a Bíblia não fala muitas vezes sobre a ira de Deus? Você pode realmente confiar em alguém que está quase sempre irado?
Graham: Vamos ter mais a dizer com respeito a isso no capítulo sobre por que Jesus teve que morrer (capítulo oito). Por enquanto, deixe-me apenas dizer que se você tomar todos os sessenta e seis livros da Bíblia e olhar as referências sobre a ira de Deus em toda a trajetória bíblica, vai encontrar muitas passagens que explicam a ira de Deus como simplesmente sendo Deus em amorosa decepção se afastando daqueles que não O querem de maneira alguma, deixando-os assim às inevitáveis e terríveis consequências de suas escolhas insensatas. A ira de Deus não é como a nossa. Temos muito mais para ver sobre isso mais adiante.
Lou: Você poderia dizer uma ou duas palavras para apresentar o capítulo seguinte? Qual é o próximo tópico?
Graham: O próximo tópico é “Tudo o que Deus Pede é que Confiemos”. O ponto básico desse capítulo é que Deus pode e vai salvar todos os que confiam Nele. Quando se trata de salvação, não há limites da parte de Deus. Ele pode curar prontamente o dano causado. A questão crucial é se vamos ou não confiar Nele o suficiente para humildemente estar em Sua presença e com desejo de aprender perguntar: “O que devemos fazer para sermos salvos? O que devemos fazer para sermos felizes?” O problema não está com nosso Criador, o problema está conosco.
Lou: Parece-me que neste capítulo, Graham, você enfatizou o problema. Precisamos entender esse problema antes de podermos entender totalmente a solução. De certo modo, tudo depende de como entendemos a natureza do problema do pecado. E no próximo capítulo falaremos mais sobre a solução.
Graham: Com certeza. Uma compreensão correta do pecado fará grande diferença à medida que continuamos nossas conversas sobre Deus.
O PONTO CRUCIAL DO PROBLEMA
Existem pelo menos três maneiras de entender o que deu errado no universo de Deus:
- Pelo fato de violarmos as regras de Deus, nós O ofendemos. Ele está extremamente irado conosco.
- Violamos as regras de Deus e, portanto, estamos com sérios problemas jurídicos. A lei e a justiça exigem que Deus nos destrua ou que nos torture por toda a eternidade.
- Nós pecamos. Nós nos permitimos ser enganados pelas mentiras de Satanás. E assim nos afastamos do Deus verdadeiro e aceitamos outros substitutos. E os resultados foram desastrosos. Deixados por conta própria, todos nós morreríamos.