Capítulo Um – O CONFLITO NA FAMÍLIA DE DEUS

Nosso Pai celestial é incrivelmente amável e gentil, mesmo para com aqueles de nós que temos nos comportado mal. Mas a Bíblia descreve uma realidade incrível. Muito, muito tempo atrás, mesmo na presença de amor e liberdade perfeitos, um conflito teve início na família de Deus. Houve guerra no céu. A descrição mais vívida dessa guerra é apresentada no último dos sessenta e seis livros da Bíblia, o livro do Apocalipse:

Então a guerra começou no céu. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, que lutou com seus anjos; mas o dragão foi derrotado e ele e seus anjos não puderam mais ficar no céu. O grande dragão foi lançado fora! Ele, a antiga serpente, chamada Diabo, ou Satanás, que enganou o mundo inteiro. Ele foi lançado à terra, e todos os seus anjos com ele.

Então eu ouvi uma voz forte no céu que dizia: “Agora chegou a salvação de Deus! Agora Deus mostrou seu poder como Rei! Agora o Messias que ele escolheu mostrou sua autoridade! Pois o acusador de nossos irmãos, que estava diante de Deus, acusando-os dia e noite, foi expulso do céu. Nossos irmãos obtiveram a vitória sobre ele através do sangue do Cordeiro e pela verdade que proclamaram; e estavam dispostos a dar sua vida e morrer. Portanto, regozijem-se, ó céus, e todos os que vivem nele! Mas ai da terra e do mar! Pois o Diabo desceu até vocês e está muito furioso, pois sabe que só lhe resta um pouco de tempo. ” Apocalipse 12:7-12, GNT.

Ao lermos essas palavras, é bom saber que antes da guerra, havia paz em todo o universo. Havia paz porque todos os membros da grande família de Deus confiavam uns nos outros, e todos eles confiavam em seu Pai celestial. O Pai, por sua vez, podia com segurança confiar neles. Onde existe essa confiabilidade e confiança mútua, existe perfeita liberdade. Perfeita paz. Perfeita segurança. E é assim que será no por vir. A Bíblia nunca fala sobre presídios na eternidade. Não haverá polícia nas esquinas. E as mulheres sentir-se-ão seguras andando sozinhas pelas ruas a qualquer hora.   

Como os profetas devem ter se regozijado ao descrever a paz, segurança e liberdade no porvir! Isaías, por exemplo, diz que haverá lobos, leopardos e leões convivendo com os animais domesticados. E as crianças irão guiá-los (Isaías 11: 6-9). Embora possam haver leões no céu, não haverá razão para temor. Zacarias diz que na cidade por vir, homens e mulheres idosos ficarão sentados nas ruas com o cajado na mão, enquanto meninos e meninas brincam ali em segurança. (Zacarias 8:4-5). Mas por enquanto não é assim.

A Origem do Adversário (Satanás)

Olhando para o passado quando ainda tudo era paz, uma crise de desconfiança surgiu na família de Deus. O pecado em sua essência é uma ruptura, é uma quebra de confiança (Romanos 14:23). E assim o pecado entrou em nosso universo pela primeira vez. Se alguma vez já lemos a Bíblia inteira, vamos reconhecer a história. Ela começa com o mais brilhante de todos os seres criados por Deus. Ele é descrito em Ezequiel 28 como estando na presença de Deus. Também é descrito em Isaías 14 como conhecendo tão bem a Deus que saiu da presença dEle levando luz e verdade a seus anjos companheiros. Foi por isso que ele recebeu o nome de Lúcifer (Isaías 14:12, KJV), que é um termo do latim que significa “portador da luz” ou mestre da verdade. Uma versão grega do mesmo nome é dada ao próprio Jesus Cristo no Apocalipse (22:16 — “estrela da manhã”, veja também João 1:4-5). Portanto, Lúcifer entre os anjos, teve um papel semelhante ao de Jesus antes do pecado. 

Movido por ciúme e orgulho, esse anjo brilhante, de maior confiança e até mesmo reverenciado, decidiu minar a confiança em Deus, divulgando informações incorretas e mentirosas sobre nosso Pai celestial. E assim ele se tornou portador de mentiras ao invés de portador de luz e mestre da verdade (João 8:44). O nome Lúcifer não está mais associado a ele. Ele não é mais portador de luz; ele agora é portador de mentiras. Seu verdadeiro nome é Satanás, o adversário, oponente, caluniador (Zacarias 3:1-2).

E como esse adversário atuou entre os anjos! De maneira dissimulada, ele insinuou que o próprio Deus era um mentiroso, indigno de confiança.

Especificamente, ele acusou a Deus de não respeitar a liberdade de Seus filhos; que Ele era arbitrário, exigente, vingativo, implacável e severo (baseado em Gênesis 3:1-5). Com palavras cuidadosamente escolhidas, ele procurou levar outros anjos a se afastarem de Deus e convencê-los de adorá-lo. Parece inacreditável que uma criatura ouse pensar de si mesma como sendo Deus propondo que os anjos a adorem. Mas a Bíblia registra que Satanás (Lúcifer) é realmente capaz de tal insanidade: 

Como caíste do céu, ó estrela da manhã, [Lúcifer – KJV], filha da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, e acima das estrelas de Deus, exaltarei o meu trono, e no monte da congregação, me assentarei, da banda dos lados do Norte. Subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo. Isaías 14:12-14, ARC.

Em outra ocasião, Satanás teve até a ousadia de pedir ao seu Criador que Se ajoelhasse no deserto da tentação e adorasse sua própria criatura:

Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles ; E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Então, disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele servirás. Então, o diabo o deixou, e eis que chegaram os anjos e o serviram. Mateus 4:8-11, ARC.

Os anjos, ao assistirem essa cena, ficaram surpresos ao verem um de seus companheiros, um ser criado, pedir a Deus que Se ajoelhasse e o adorasse.

Deus suportou longa e pacientemente enquanto observava esta rebelião se desenvolver em Sua família. Ele observou até que um terço de Seus anjos, cujas mentes eram brilhantes, concordassem com Satanás de que Deus não era digno de sua confiança. Isso significa que mesmo Deus, embora infinito em poder, não conseguiu persuadir esse grupo de anjos de que as acusações de Satanás eram falsas. Finalmente, como vimos em Apocalipse 12, a guerra começou no céu.

Satanás espalhou essas falsas acusações (de que Deus é um mentiroso indigno de confiança) não somente entre os anjos, mas prontamente passou-as aos nossos primeiros pais no jardim, envolvendo-nos também no conflito:

Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas, do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. Então, a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. Gênesis 3:1-5, ARC.

A palavra “astuta” neste texto, significa que a serpente era mais sutil ou esperta do que qualquer outra criatura que Deus havia feito. Eu não culpo a Eva por querer ser como Deus; não é essa também a sua oração? Mas aqui a serpente (Satanás) a enganou fazendo-a pensar que havia um atalho milagroso para se tornar como Deus.

Nosso Papel Neste Conflito

Quer queiramos ou não, todos nós estamos envolvidos nas consequências desta guerra. Todos no universo estão inevitavelmente envolvidos. E o futuro da família de Deus, à qual todos pertencemos, depende do resultado desta guerra. Comparada com a solução de Deus para esse problema, nossa própria salvação pessoal, embora importante, é irrelevante. Pois se Deus não vence esta guerra, quem desejaria de ser salvo?

Por outro lado, nossa salvação é relevante para Deus vencer esta guerra. A maneira que Deus usou para nos conquistar é a mesma que Ele usou para vencer a guerra entre os anjos. Em outras palavras, os métodos que Deus usou para levar-nos ao arrependimento e fé (confiança), são os mesmos métodos que levaram o universo não caído a afirmar que Ele é absolutamente confiável. Mesmo se Ele falhar em nos conquistar, eles continuarão confiando nEle e adorando-O pelo resto da eternidade por causa da Sua demonstração de bondade e confiabilidade.

Mesmo que Deus queira salvar a todos, e não consiga, ainda assim Ele não perderia a guerra. Porque no céu, a guerra já foi vencida há dois mil anos atrás. Ao longo de todo o livro do Apocalipse, os anjos estão celebrando a vitória de Deus nesta guerra. Eles não cessam de afirmar que Ele provou ser íntegro e santo e justo e bom e infinitamente digno de sua confiança (Apocalipse 5:9-12; 15:3-4). E essa vitória é o fundamento da nossa salvação.

Por haver muitas e sérias crises entre os primeiros cristãos daquela época, a ilustração do Apocalipse a respeito dos anjos comemorando a vitória foi extremamente necessária e encorajadora. Por um lado, a Segunda Vinda parecia estar adiada indefinidamente. Eles criam que Ele viria por volta do ano 50 D.C. e Paulo teve que lhes dizer: “Não, ainda não.” (2 Tessalonicenses 2:1-3). Outros eventos ainda estavam por acontecer (2 Tessalonicenses 2:4-12). E mesmo por volta de 90 D.C., Jesus ainda não havia retornado. Além disso, haviam heresias na igreja. Alguns, por exemplo, ensinavam que Cristo não tinha vindo em forma humana. Que Ele na realidade não sofreu nem morreu. Ele havia forjado tudo. Por essa razão, eles eram algumas vezes chamados de Docetistas (da palavra grega “parecendo ser”). Então houve grande oposição e séria perseguição. Além do mais, os apóstolos estavam todos mortos, exceto um. E esse era o idoso João, que agora estava como prisioneiro na ilha de Patmos (Apocalipse 1:9). Restava ainda alguma boa nova para encorajar os primeiros cristãos?

Quando as coisas estão bem adversas, você pode confiar que Deus há de enviar uma mensagem de encorajamento e esclarecimento ao Seu povo. Ele certamente não enviaria um livro de mistérios e agendamento de eventos que eles não poderiam entender. Pelo contrário, o sexagésimo sexto livro da Bíblia enviado por Deus é intitulado “Revelação” ou “Clareza”. O livro do Apocalipse foi um convite para os primeiros cristãos desencorajados a olharem um pouco mais acima, para terem uma visão mais ampla das coisas. Isso os ajudou a ver que todos eles estavam envolvidos em um vasto conflito que afeta todo o universo! E que é um conflito a respeito do próprio caráter e governo de Deus.

Não apenas isso, ao você ler o livro do Apocalipse, você observa que Deus já ganhou esta guerra, e que todos os anjos no céu concordam com Ele. Esta é a boa nova. Apocalipse também nos convida a participar na celebração; e então sair pelo mundo convidando a todos os que estão dispostos a ouvir, para participar da vitória de Deus na guerra. Quando os cristãos descobrem essa visão mais ampla, não precisam mais estar todo o tempo na defensiva; eles agora têm boas novas para compartilhar. Não há como Deus e o Seu lado fracassarem. O convite do sexagésimo sexto livro da Bíblia é para juntar-se ao lado vencedor 

O livro do Apocalipse também diz que você pode confiar que Deus vai esperar até que essa verdade sobre Ele, essa boa nova sobre Seu caráter e governo, tenha sido espalhada por todo o mundo. Deus é o tipo de Pessoa que aguarda até que Seus filhos tenham tido a oportunidade de entender os problemas da guerra. Ele quer que eles estejam prontos para os incríveis eventos que a Bíblia descreve como ocorrendo antes da volta de Jesus. O maior privilégio dos amigos de Deus neste planeta hoje é compreender e apresentar o plano da salvação no cenário mais amplo do Grande Conflito.

Resumindo, o primeiro passo na jornada da fé é reconhecer que nós somos pecadores e que precisamos ser salvos. Portanto, é de se entender, que a princípio, possamos estar preocupados com o que Deus tem feito para podermos ser salvos. Mas à medida que crescemos na jornada da fé e nosso conhecimento da Bíblia se aprofunda, aprendemos a considerar a Bíblia como um todo. Torna-se então evidente que nossa própria salvação pessoal (por mais importante que seja) é apenas uma pequena parte de um quadro muito maior que envolve a paz e a segurança de todo o vasto universo. Envolve a confirmação da verdade sobre o nosso próprio Deus.

A visão mais ampla da Bíblia

Agora, é importante reconhecer que nem todos os cristãos têm podido entender o plano de Deus da salvação, nessa visão mais ampla. Mesmo os grandes teólogos da Reforma não compreendiam dessa maneira. Lutero, por exemplo, estava preocupado com as bondosas providências de Deus para salvar você e a mim. Uma razão pela qual Lutero não enfatiza essa visão mais ampla é que ele foi incapaz de usar o livro do Apocalipse. Lutero corretamente insistiu que devemos usar “a Bíblia e apenas a Bíblia” (Sola Escriptura), mas ele mesmo não foi capaz de usar todos os sessenta e seis livros. Ele,  

em particular, considerava Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse como inferiores aos outros livros do Novo Testamento. No livro do Apocalipse, ele disse que encontrou “muito pouco sobre Cristo e muito do que ninguém conseguia entender”. E então ele resumiu: “Não há como o Espírito Santo ter inspirado este livro!” Mas, por não poder usar o livro do Apocalipse, sua compreensão do evangelho não incluiu a guerra no céu.

Alguns de nós, entretanto, temos sido grandemente beneficiados por Lutero em colocar a Bíblia como a mais alta de todas as autoridades. Nós temos feito o que Lutero recomendou e temos estudado a Bíblia com seriedade, não apenas os sessenta e dois ou menos livros, mas todos os sessenta e seis. Aprendemos a ler a Bíblia como um todo e ver o relacionamento de todas as suas partes com o tema central, a revelação da verdade sobre Deus no Grande Conflito. Por mais de cem vezes tive o privilégio de liderar grupos de estudo em todos os sessenta e seis livros da Bíblia. Cada vez que o faço, para mim fica ainda mais claro que a Bíblia é um registro inspirado de como Deus lidou com a crise em Sua família. Eu acho que se Lutero estivesse vivo hoje, ele também poderia se alegrar nesta visão mais ampla.  

Não existem atalhos para se confiar, ou a Bíblia seria um livro bem mais resumido. As alegações não provam nada. Mesmo quando uma pessoa tem sido falsamente acusada de não ser confiável, é somente pela demonstração de confiabilidade por um longo período de tempo e sob variadas circunstâncias, especialmente circunstâncias difíceis, que a confiança pode ser restabelecida e confirmada.

A Visão Ampliada da Cruz

A Bíblia registra tal demonstração, começando com a entrada do pecado no universo e culminando com a morte de Cristo na cruz. No meu entendimento, Cristo morreu para restabelecer a paz na família de Deus. O apóstolo Paulo explicou em várias passagens o propósito da cruz e por que Jesus teve que morrer. Veja em Colossenses, por exemplo:

Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus. Colossenses 1:19-20, ARC.

A palavra “reconciliar” aqui, significa expiar, trazer à unidade. Observe também onde a paz é feita. Na cruz. Vamos ver o mesmo verso em outra tradução:

Pois foi pela própria decisão de Deus que o Filho tem em si mesmo toda a natureza de Deus. Por meio do Filho, então, Deus decidiu trazer todo o universo de volta para si, Deus fez a paz por meio da morte sacrificial de seu Filho na cruz, e assim trouxe de volta para si todas as coisas, tanto na terra como no céu. Colossenses 1:19-20, GNT.

Note outras duas passagens em Efésios que apontam para o mesmo:  

Ele tornou abundante para conosco em toda a sabedoria e prudência desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo, de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra. Efésios 1:8-10, ARC.

Aqui temos um vislumbre do fim da guerra, quando o propósito de Deus é cumprido e todo o universo será unido. Unir todas as coisas é o oposto de guerra; quando você tem unidade, você também tem paz. Agora vamos para o outro texto de Efésios:

… e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que, desde os séculos, esteve oculto em Deus, que tudo criou; para que, agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus. Efésios 3:9-10, ARC.

De acordo com Efésios, a maneira como Deus está demonstrando a verdade sobre Si mesmo e está vencendo a guerra, é por meio de Sua igreja, por meio de Seu povo. Isso é explicado de uma forma impressionante em outra carta de Paulo: “… nos tornamos um espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens.” 1 Coríntios 4:9, ARC. A palavra grega para espetáculo é theatron, de onde vem a palavra “teatro”. Alguns dos santos podem não querer ir ao teatro, mas Paulo nos diz que vivemos o tempo todo em um teatro. O palco de Deus. E neste palco Ele está demonstrando a verdade sobre Si mesmo pela maneira como está lidando com Sua igreja.

Deus inclui toda a família nos resultados desta demonstração: “Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim.” João 12:32, GNT. A Bíblia Boa Nova expressa aqui o verdadeiro significado do original. A palavra traduzida como “todos” não se limita aos seres humanos. Significa todo o universo; todos e tudo. Não somente as pessoas neste planeta,  

mas também os anjos leais, creio eu, foram atraídos para mais perto de Deus por causa dessa demonstração tão custosa. Esses versos me dizem que Cristo também morreu pelos anjos que não pecaram. E eles certamente não precisavam de perdão ou do ajuste de sua situação legal. Entretanto, a Bíblia diz que eles também precisavam da mensagem da cruz.

A Visão Mais Ampla do Evangelho

Então, qual é a mensagem da cruz? Evidentemente, é muito mais do que o pagamento de uma pena legal para que de alguma forma Deus possa com justiça perdoar você e eu. A cruz também foi necessária para os anjos leais. E isso na realidade sugere que devemos voltar ao pé da cruz e unir-nos à família do universo observando de perto como Jesus morreu. Com muita atenção escutemos Suas palavras na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Mateus 27:46; Marcos 15:34, KJV. E o que significa isso? E como esse sofrimento e morte restauram a paz na família de Deus? Eu acredito que, no Grande Conflito, todas as crenças cristãs assumem um significado muito mais amplo.  

O evangelho certamente são as boas novas sobre o que Deus tem feito por você e por mim. Porém, no cenário mais amplo do grande conflito, o evangelho é a verdade sobre nosso amoroso Deus. É a verdade que acaba com a guerra, que confirma a lealdade do universo e que leva alguns de nós de volta ao arrependimento e à confiança. Acredito que a mais importante de todas as nossas crenças é a verdade sobre Deus. Deus não é o tipo de Pessoa que Seus inimigos O fizeram  

parecer – arbitrário, vingativo e severo. Em vez disso, Ele é precisamente o que Seu Filho O revelou ser. Nós cremos no testemunho de Jesus quando Ele disse: “Quem me vê a mim vê o Pai”. João 14:9. Deus é tão amável e gentil quanto Seu Filho; com a mesma disposição para perdoar e curar.

Poderia haver alguma notícia melhor do que essa? Para mim, essa é a boa notícia eterna que mantém a lealdade do universo. Esse é o evangelho que nos reconquista e conservará nossa lealdade e confiança pelo resto da eternidade. E esta é a mensagem que temos o grande privilégio de compartilhar com todas as pessoas desse planeta. Pessoas que talvez não saibam que são membros da família de Deus. Pessoas que merecem saber e merecem ouvir esta verdade. Portanto, essa é a questão fundamental para ser abordada neste livro: Podemos ter certeza de que Deus é exatamente assim? Perguntas sempre foram bem recebidas por Jesus, e nós devemos fazer o mesmo.

Perguntas e Respostas

Louis Venden: Estamos intitulando este livro de Conversas sobre Deus. Mas um pouco antes você disse que Jesus é aquele que revela a Deus; se nós O vimos, vimos O Pai. Então, por que este livro não leva o título de “Conversas sobre Jesus”?

Graham Maxwell: Tenho me deparado com essa pergunta várias vezes. Já que Jesus é Aquele que veio revelar a verdade, por que não falamos mais sobre Ele? Isso sugere algumas ideias interessantes. Se acreditamos que Jesus Cristo é Deus, quando falamos sobre Cristo, estamos também falando sobre Deus. Se todo o propósito de Sua vinda a essa terra é revelar a verdade sobre Seu Pai, então Ele também está revelando a verdade sobre Si mesmo. Portanto, quer falemos sobre Deus ou Cristo, estamos falando sobre Deus. Mas eu creio que nos ajuda a dar direção à nossa conversa, ao dizer que a questão fundamental realmente é sobre Deus. É Deus que veio em forma humana como Cristo; este é o método definido que Ele usou para revelar a verdade sobre Si mesmo. Em certo sentido, é mais só alvoroço quando alguém pergunta: “Devemos falar sobre Deus ou sobre Cristo?”

Lou: Se estou entendo corretamente, você está dizendo que o próprio Jesus ficaria mais feliz se estivéssemos falando sobre Aquele a quem Ele veio revelar.

Graham: Me impressiona o fato de que quando Jesus esteve aqui, ele dizia: “Não olhem para mim, olhem para o Pai.” João 5:19,30; 8:28-29; 14:6-11; 15:15; 16:26-27. Isso me diz que devemos sempre superar uns aos outros quando  damos honras. A Trindade faz isso. O Filho está sempre superando a Si mesmo para dar honra ao Pai, mas eu tenho notado que isso também acontece na outra direção – o Pai dá ao Filho o nome acima de qualquer outro nome. Filipenses 

2:9-11. E o Espírito Santo, de forma modesta, está sempre chamando nossa atenção para o Pai e o Filho. João 4:23-24; 15:26; 16:13-14. A maneira como essas três Pessoas divinas se comportam é um modelo para nós.

Lou: Mais uma pergunta relacionada ao mesmo tema: Como você pode realmente ter uma conversa sobre Deus? Afinal, como podemos realmente conhecer a Deus? Veja a declaração de Paulo em Romanos: “Quão insondáveis ​​são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos.” Romanos 11:33, ARC. Se esse é o caso, quem somos nós para questionar? Deus é soberano, então por que deveríamos estar sentados aqui conversando sobre Deus? 

Graham: E quem somos nós para questionar os insondáveis caminhos ​​de Deus? Isso está em Romanos. Porém precisamos harmonizar este com Romanos 1:19-20, onde Paulo diz (parafraseando): “Você não tem desculpa se você não conhece a Deus”. Portanto, levando em conta o princípio de tomar a Bíblia como um todo, e não apenas “um pouco aqui e um pouco ali”, eu teria que colocar Romanos 1 ao lado de Romanos 11.

Eu penso que quando Paulo está dizendo que o pensamento de Deus está muito acima do nosso (ver também Isaías 55:8-9), isso é um reconhecimento reverente de que Deus é infinito. Pense em tudo o que Ele sabe! Nós nunca entenderemos a Deus completamente; somos meras criaturas. E às vezes precisamos ser lembrados de Sua infinita superioridade. Mas, quão maravilhoso é saber então que O Infinito gostaria que nós O conhecêssemos.

Através de toda a Bíblia Ele disse coisas como: “Israel está destruído porque não Me conhece” (veja Oséias 4:6), e, “Eu vim à esta terra para que Me conheçam” (veja João 17:1-5). Portanto, está bem claro que Deus deseja ser conhecido. Mas não devemos pretender ser deuses achando que sabemos tudo o que Ele sabe.

Lou: Então, não devemos usar a ideia da soberania de Deus como desculpa para ignorar questões relacionadas ao Seu caráter.

Graham: Eu na verdade, creio que essa ideia vem de Romanos 9, onde o versículo diz: “Quem é você para questionar Deus? Quem é você para responder a Deus?” Romanos 9:14-26, especialmente 20-21. Mas Romanos 9, creio eu, foi mal interpretado por algumas pessoas muito santas, incluindo um notável teólogo dos dias da Reforma. Realmente é necessário colocar Romanos 9 em todo o contexto de Romanos — certamente no contexto dos capítulos 1 a 9.

Em Romanos 1-8, Paulo vem dizendo ao seu público (que é composto de judeus e gentios), “Tenho ótimas boas novas para vocês. Deus salvará todos os que confiam nEle — seja você judeu ou gentio, escravo ou livre, homem ou mulher (Romanos 1:16-17 / 3:21-30). Ele vai salvar todo aquele que confia nEle.” E enquanto Paulo apresentava os capítulos 1 a 8, ele podia sentir que certos membros de sua audiência (descendentes de Abraão) não estavam recebendo isso muito bem, porque eles pensavam que tinham um relacionamento especial com Deus. Era como se Deus tivesse feito um acordo com seu ancestral em favor deles. É por isso que eles se preocupavam tanto com coisas como a sua genealogia.

Quando Paulo chegou, portanto, ao final do capítulo 8, ele sentiu que alguns de seus leitores estariam bastante ofendidos. Então, em síntese, ele se virou para eles e disse: “Sinto que alguns de vocês não gostam do que eu disse, que Deus é o tipo de Deus que salvaria todos os que confiam nEle. Mas quando você pensa assim, não está sugerindo que conduziria o universo melhor do que Deus? Está você dizendo que Deus não pode salvar todos os que confiam nEle? Deixe-me dizer-lhe algo: Deus vai conduzir este universo exatamente como Ele deseja. Assim como o oleiro pega um pedaço de barro e faz desse mesmo pedaço um vaso para honra e um para a desonra (Romanos 9:21), assim Deus tem o direito — se Ele quiser exercê-lo — de conduzir Seu universo da maneira que Ele desejar!”

Algumas pessoas interpretam isso fora do contexto e dizem: “Deus pega o material de que todos somos feitos e faz alguns para serem salvos e outros para serem perdidos. Então, de que adianta procurar conhecê-Lo? Nosso destino já foi determinado.” Não, o que Paulo está dizendo em Romanos 9 é que Deus tem tanta autoridade quanto o oleiro – na verdade, Ele tem ainda muito mais. Ele criou este universo. Ele vai conduzi-lo exatamente como Ele deseja. E Ele nunca mudará. Você pode ter certeza disso. Quer dizer então que em Romanos 9 Deus é arbitrário? No contexto dos capítulos 1-8, onde Paulo já explicou como Deus governa o universo, não. Deus é infinitamente amável e gentil. E não tem o que Ele mais valoriza do que a nossa liberdade, e salvará todos os que confiam nEle. Mas Ele não espera que confiemos nEle como um estranho, por isso a um custo tão infinito, Ele revelou a verdade sobre Si mesmo. E é isso que a suposta audiência de Paulo não havia gostado. O que Paulo está realmente dizendo em Romanos 9 é: “Seus atrevidos e irreverentes. Como vocês ousam dizer a Deus como conduzir Seu universo! Como Deus governa Seu universo? Por favor, leiam Romanos 1-8. O tratamento de Deus para com o universo é infinitamente amoroso.”

Lou: Mas isso levanta outra questão, por que um Deus que é infinitamente poderoso, que pode governar o universo da maneira que Ele quiser, permite um conflito como aquele sobre o qual lemos no capítulo 12 do Apocalipse? Por que Ele permitiria que uma guerra acontecesse no céu?

Graham: Essa é uma excelente pergunta. Se Deus tem tanta autoridade e poder, como uma guerra poderia acontecer no céu? Essa pergunta é a razão pela qual aqueles que enfatizam a soberania de Deus tem grande dificuldade em permitir uma guerra no céu. E é por isso que muitos dos reformadores realmente não puderam usar esse sexagésimo sexto livro da Bíblia. Lutero, por exemplo, disse: “Imaginava-se que havia acontecido uma guerra.” Ele simplesmente não conseguia compreender algo assim. Mas para mim isto é uma das coisas mais fascinantes sobre Deus. Embora Ele tivesse o poder infinito necessário para impedir tal guerra antes mesmo dela começar, Ele não o fez. Deus deve considerar algo muito mais valioso do que nossa mera submissão ao Seu poder, razão pela qual Ele permitiu que a rebelião de Lúcifer no céu crescesse cada vez mais. Pelos padrões seculares de boa administração, Deus foi incapaz. Foi uma má gestão. Eu pergunto, quanto tempo um pastor duraria em nossa igreja, se houvesse tal confusão entre seus membros? A comissão se reuniria!

Lou: E o pastor seria transferido, não é certo?

Graham: Sim. Será então que devemos pedir que Deus seja transferido por causa da falta de competência de Sua parte? Sabemos que Ele tem poder infinito, mas mesmo assim permitiu que essa guerra se desenvolvesse. Ele permitiu que perguntas fossem levantadas. Isso me diz que há algo de maior importância para Deus do que simplesmente nossa mera submissão ao Seu poder infinito.

Lou: Aqui temos uma pergunta relacionada à guerra no céu. E com relação ao anjo que parece dar início à guerra, aquele chamado “Estrela da Manhã” ou Lúcifer? Se Deus sabia que todo esse problema aconteceria, e que Lúcifer estaria no centro de tudo isso, por que Ele criou Lúcifer?

Graham: Isso, é claro, leva a perguntar se Deus conhece tudo no futuro. E existem santos bondosos que se perguntam sobre isso. Eu preferiria encontrar uma explicação que me permita dizer que Deus pode ver o fim desde o princípio. O passado, o presente e o futuro; são todos iguais para Ele. E ainda assim permaneço livre. Meu entendimento seria que, quando Deus criou Lúcifer, Ele sabia o que Lúcifer faria. E ainda assim, de qualquer maneira Ele foi em frente. Ele sabia o que isso Lhe custaria. Ele sabia o que isso custaria a Seus filhos. E ainda assim Ele foi em frente. E quando você pensa na angústia que está sendo envolvida em solucionar esse problema e resolver essa guerra, é porque deve haver algo de valor infinito em jogo, ou Deus não teria feito isso.

Ele certamente tinha outras opções que poderiam ter parecido mais fáceis. Quando Lúcifer começou a ocupar sua mente com esses pensamentos rebeldes, Deus poderia tê-lo eliminado naquele momento. Que dano teria isso causado? Bem, os anjos observando poderiam pensar: “É melhor eu não ter pensamentos maus ou provavelmente seria eliminado também”. Mas depois de eliminar Lúcifer, Deus poderia ter apagado da mente toda a lembrança para que ninguém o soubesse. E Ele poderia repetir isso infinitas vezes e ninguém saberia, exceto Deus.

Então, por que Ele não fez isso? Poderia ser que Ele não seria capaz de viver com a realidade de estar fazendo isso? Ou será que Ele quer que saibamos o que Ele fez, na realidade? Ele definitivamente não usou um atalho. Ele permitiu Lúcifer desenvolver e espalhar esses pensamentos entre os anjos, sabendo o que isso custaria à Ele e à Seus amigos neste planeta. Todos nós participamos um pouco no Grande Conflito. Mas sabendo os milhares de anos que isso levaria, e todos os mal-entendidos e as angústias, Deus disse: “Eu irei em frente de qualquer maneira.” E os anjos entendem isso e Lhe dizem: “Você fez isso esplendidamente. E estamos com você pelo resto da eternidade.” O que estava então em jogo nesta decisão? Essa é a grande questão.

Lou: Essa perspectiva que você está compartilhando aqui e ao longo deste livro inclui uma guerra, uma crise de desconfiança e se Deus pode ser confiável!

Graham: Certo. Não se trata de poder. Se fosse sobre o poder de Deus, Ele poderia ter resolvido as coisas em um segundo. Seria fácil mostrar que Deus é mais poderoso do que Satanás. Na verdade, tal demonstração não é necessária, uma vez que até o Diabo já está convencido. Tiago nos diz que quando o Diabo pensa sobre o poder dAquele que suspendeu todo o vasto universo no espaço, isso o assusta. Ele estremece de medo (Tiago 2:19). Portanto, não creio que devemos gastar muito tempo discutindo sobre o poder de Deus. É claro que Ele é infinito em majestade e poder. O conflito não é sobre quem tem o poder, mas sobre quem está dizendo a verdade. Deus foi acusado de abusar de Seu poder.

Lou: Graham, você mencionou que Martinho Lutero não conseguia ver essa perspectiva e que ele teve problemas com o livro do Apocalipse. Por que você acha que ele teve esse problema?

Graham: Por que não lermos o que ele escreveu com suas próprias palavras, no seu Prefácio ao livro do Apocalipse, na tradução para o inglês, obviamente. “[O livro do Apocalipse] se assemelha ao Quarto Livro de Esdras. Não posso de forma alguma verificar que o Espírito Santo o produziu.” E ele dá suas razões. Ao olhar para o livro, “Cristo não é ensinado nem conhecido no livro do Apocalipse”, embora seja “A Revelação de Jesus Cristo”. E sabemos qual era seu critério para avaliar livros na Bíblia, porque no Prefácio de Tiago, ele escreveu: “Todos os livros sagrados e genuínos … pregam e revelam a Cristo …” Se mesmo Pedro ou Paulo escrevessem um livro, não seria apostólico se não apresentasse a Cristo. E um pouco mais adiante ele escreve: “Este é o princípio que uso em minha avaliação de livros”. Temos um nome para isso: o “princípio Cristomonista”. Esse é o princípio “Cristo, somente Cristo”. Se eu não encontrar Cristo no livro, então ele não pertence ao cânone. Na teoria esse é um princípio muito bom.

Porém, e se aquele que está fazendo a avaliação não tiver uma visão completa de Cristo? Com base na visão que tinha de Cristo, Lutero estava pronto para descartar quatro livros da Bíblia.

Lou: E isso em vez de permitir que esses livros expandissem sua compreensão e visão de Cristo.

Graham: Sim. Lutero inverteu as coisas. Mas quando você pensa em suas realizações maravilhosas, creio que devemos tolerar isso. Entretanto, com base no que sabemos hoje, podemos encontrar a Cristo no livro do Apocalipse? Eu penso que sim. Portanto, de acordo com o princípio Cristomonista que Lutero estabeleceu, levo todos os sessenta e seis livros a sério. O princípio é bom, mas temos feito alguns avanços desde então.

Lou: E isso também seria confirmado pela própria declaração do livro do Apocalipse de ser a “revelação de Jesus Cristo”.

Graham: Bem no início (Apocalipse 1:1). E veja todo o primeiro capítulo. É tudo sobre Cristo, em Sua forma humana. E mais adiante no livro, é sobre como Ele voltará e o que está fazendo no santuário celestial. O livro do Apocalipse está repleto dEle.

Lou: Mas agora, Graham, em nossa leitura do livro do Apocalipse, como você compartilhou conosco, e parece estar bem claro; há uma declaração aqui de que a guerra começou no céu, e assim por diante. Mas eu me pergunto: Quão amplamente é essa perspectiva compartilhada pelo mundo cristão em geral? Ou seja, a ideia de uma guerra, e do Grande Conflito, ao que você fez referência como sendo “visão mais ampla”. 

Graham: É estranho que muitos não saibam sobre isso. É como se houvesse uma conspiração de silêncio. Mesmo assim, estamos encontrando mais e mais pessoas que viveram no século dezenove e mesmo antes, que tiveram vislumbres dessa visão mais ampla. Sempre gostei, desde os tempos de faculdade, do livro: Paraíso Perdido, Paraíso Reconquistado, de John Milton. Ali existe uma visão parcial, não a visão completa.

Um dos melhores em expressar essa visão mais ampla foi um pregador chamado Henry Melvill, que viveu na Inglaterra em meados do século dezenove. Ele era um pregador magnífico, e sua esposa costumava escrever ordenadamente seus sermões para que ele os apresentasse em nada menos do que na Catedral de São Paulo em Londres. Melvill pregou sobre uma crise entre os anjos, como eles precisavam ter sua lealdade confirmada pelas próprias revelações dadas por Deus por meio da morte de Jesus. E Melvill era um personagem importante; após sua morte, ele foi sepultado na Catedral de São Paulo, uma honra reservada a bem poucos.

Uma pessoa que particularmente gostava de seus escritos era Ellen White. Ela possuía seu livro em sua biblioteca. Não conheço ninguém até hoje que expressou a “visão mais ampla” tão bem quanto Ellen White. Seu trabalho foi baseado em todos os sessenta e seis livros da Bíblia e na leitura dos extraordinários escritos de Melvill e outros. Vejamos um lugar onde ela apresenta este quadro maior:

Mas o plano da redenção tinha um propósito ainda mais vasto e profundo do que a salvação do homem. Não foi para isto apenas que Cristo veio à Terra; não foi simplesmente para que os habitantes deste pequeno mundo pudessem considerar a lei de Deus como devia ela ser considerada; mas foi para reivindicar o caráter de Deus perante o Universo. Para este resultado de Seu grande sacrifício, ou seja, a influência do mesmo sobre os entes de outros mundos, bem como sobre o homem, olhou antecipadamente o Salvador quando precisamente antes de Sua crucifixão disse: “Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. E Eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a Mim”. João 12:31,32. O ato de Cristo ao morrer pela salvação do homem, não somente tornaria o Céu acessível à humanidade, mas perante todo o Universo justificaria a Deus e Seu Filho, em Seu trato com a rebelião de Satanás. Estabeleceria a perpetuidade da lei de Deus, e revelaria a natureza e os resultados do pecado. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, 68-69.

Embora a versão King James diga “atrair todos os homens“, Ellen White deixa a palavra “homens” de fora nesta citação. Ela simplesmente diz “todos atrairei”, o que aponta para uma visão muito mais ampla das coisas. Embora tenha havido santos ao longo dos anos que falaram sobre este quadro maior, Ellen White é quem melhor resumiu até hoje, e parece ter entendido isto com mais clareza.

Lou: Suponho que parte do problema seja nossa tendência de nos concentrarmos em nossa própria salvação. Você se referiu a como nossa salvação precisa ser vista de uma perspectiva mais ampla. O que estou me perguntando é: Como essa perspectiva afeta a nossa crença em geral? Isso faz diferença?

Graham: Não creio que diminui nossas crenças cristãs de forma alguma; ao contrário, faz com que se tornem mais significativas. Como mencionei antes, o evangelho assume um significado muito mais amplo no contexto do Grande Conflito. Mas isso não é tudo. Alguns de nós consideram observar o sábado como um privilégio e uma grande bênção. Uma abordagem típica sobre o sábado se preocupa com o que Deus tem feito por nossa própria salvação e o que Deus tem feito por este planeta. Entretanto, se você limita sua compreensão somente a este planeta, logo o sábado foi dado antes do pecado. E, como tal, é apenas um teste da nossa obediência, para mostrar a autoridade de Deus e testar nossa disposição em obedecer.

Em uma visão mais ampla, porém, o sábado foi dado ao homem depois que o pecado entrou no universo. Então, não é mais um teste arbitrário de obediência. É um grande presente que Deus nos deu para nos lembrar de todas as coisas que a Bíblia associa com o sábado. Coisas como liberdade e a perfeição no Éden, e o livre-arbítrio que Ele deu a todas as Suas criaturas. O livramento de Deus ao Seu povo no Êxodo. E então os eventos da semana da crucificação. O sábado do sétimo dia está conectado com todos esses eventos.

Da mesma forma, a lei em uma Visão Ampliada é a medida de emergência de Deus para nos ajudar. Paulo diz especificamente isso em Gálatas 3:19. Veja, por exemplo, a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Eles não deviam comer o fruto daquela árvore do jardim. Na visão mais limitada, que está preocupada com o que Deus fez por nós neste planeta, Deus disse: “Não toque nessa árvore”, antes do pecado. E isso seria simplesmente um teste de obediência, ou pelo menos é assim que costuma ser apresentado. Mas na visão mais ampla da grande controvérsia, eles foram instruídos a não se aproximarem daquela árvore depois que o pecado entrou no universo. Com isso em mente, a árvore não era tanto um teste de obediência, mas algo dado para nos proteger. Observe que Deus permitiu que Satanás tentasse Adão e Eva, porém Satanás tinha permissão para se aproximar deles especificamente naquela árvore. Deus não os estava limitando, Ele estava limitando a Satanás! Veja, quanto mais ampla a perspectiva, menos arbitrários parecem ser os requisitos, medidas e provisões de Deus. Ele é visto muito melhor da perspectiva do grande conflito.

Lou: Isso definitivamente nos ajuda a compreender a razão e o significado por trás do que Deus faz e, às vezes, do que deixa de fazer. Mas isso me leva à uma última pergunta: “Se Deus venceu a guerra no Calvário, então por que ela não terminou? Por que ela ainda está acontecendo? Na verdade, por que ela não terminou quando Deus expulsou Satanás e seus anjos do céu?”

Graham: Obviamente, a expulsão de Satanás do céu foi uma vitória, uma vitória física. Mas Deus não estava satisfeito apenas com isso. Ainda havia dúvidas e questionamentos não resolvidos no meio de Sua família. E então Ele esperou. Mas quando Jesus disse: “Está consumado” (João 19:30), algo foi concluído. E o Apocalipse revela que Ele foi reconhecido no céu como tendo vencido a guerra (Apocalipse 5:6-14). Então, o que Ele ainda está esperando? Poderia ser o fato da guerra ter sido ganha nas mentes de Seus filhos em todo o universo, mas não aqui neste planeta? Ainda estamos tentando fazer nossa decisão. E é essencial que não apenas decidamos, mas que estejamos tão firmes nessa decisão a ponto de não sermos abalados, durante os terríveis eventos que acontecerão antes da Segunda Vinda. É por misericórdia que Ele espera.

Lou: Eu tenho certeza que teremos mais informações sobre isso conforme a série avança. Fale-nos sobre o próximo capítulo.

Graham: O próximo capítulo trata da questão, “O Que Deu Errado no Universo de Deus?” O que deu errado na família? Vai ser uma nova visão sobre o pecado no cenário mais amplo do Grande Conflito. O pecado é muito mais do que apenas quebrar as regras, é uma quebra de confiança e de confiabilidade. Isso nos levará ao centro da questão na guerra. Até compreendemos o que deu errado, como podemos entender os esforços de Deus para corrigir as coisas?